Sistema de plantio direto pode transformar o campo e beneficiar toda a sociedade

Experiência e Conhecimento no Campo: Aurio Gislon fala sobre o curso de Pós-Graduação e Especialização em Plantio Direto no IFC de Rio do Sul

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Plantas de cobertura protegem o solo e aumentam sua produtividade - Foto Aurio Gislon
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Por Cleiton da Silva – Jornal Alto Vale Online

Rio do Sul, SC — O avanço da agricultura sustentável tem ganhado força no Alto Vale do Itajaí, e um dos principais propulsores desse movimento é o curso de Especialização e Extensão em Educação do Campo: Sistema de Plantio Direto de Hortaliças e outras Lavouras (SPDH+) e a Transição para Sistemas Agroecológicos, oferecido pelo Instituto Federal Catarinense (IFC) – Campus Rio do Sul. A turma é formada por pessoas com graduação mas também por pessoas sem graduação, por isso é uma pós-graduação e ao mesmo tempo um curso de extensão. Reúne formandos dos três estados do Sul do Brasil.

Para compreender melhor a importância dessa formação, o estudante de jornalismo Cleiton da Silva entrevistou o jornalista Aurio Gislon, acadêmico da Especialização e participante ativo nas discussões sobre sustentabilidade e agricultura familiar.

O início da conversa

Durante a entrevista, realizada via WhatsApp, Aurio Gislon falou com entusiasmo sobre sua experiência acadêmica e profissional na área. Segundo ele, o curso representa uma resposta concreta às necessidades de agricultores familiares que buscam novas formas de produzir sem agredir o solo e o meio ambiente.

“A pós-graduação e extensão em Plantio Direto é mais do que um curso técnico. Ela é uma proposta de transformação no modo de pensar e agir no campo. O que aprendemos aqui está profundamente ligado à sustentabilidade e à autonomia do agricultor familiar”, destacou Gislon.

A importância do Plantio Direto

Questionado sobre o impacto prático do Sistema de Plantio Direto de Hortaliças e outras Lavouras (SPDH+), Aurio explicou que o método se baseia na preservação do solo, uso racional de recursos e equilíbrio ecológico.

“O solo é um organismo vivo. O sistema de plantio direto procura manter sua estrutura e fertilidade naturais. Isso reduz o uso de agrotóxicos e melhora a qualidade dos alimentos. Além disso, o agricultor passa a depender menos de insumos externos e mais do próprio ciclo natural da terra”, explicou.

O jornalista ressaltou ainda que o curso do IFC tem uma característica singular: alia teoria e prática em um modelo de regime de alternância, no qual os alunos vivenciam o aprendizado tanto na sala de aula quanto nas propriedades rurais, em lavouras de estudo e em visitas técnicas.

Plantio Direto e a reversão da crise climática

Aurio Gislon também destacou que o SPDH+ pode contribuir para mitigar e reverter os efeitos da crise climática.

“O sistema de plantio direto ajuda na reversão da crise climática porque o solo, nesse sistema, armazena grandes quantidades de carbono, retirado da atmosfera por meio da fotossíntese das plantas. Um solo cultivado sob o SPDH, com 30 centímetros de profundidade, pode reter até 103 toneladas de carbono por hectare”, explicou Gislon.

Segundo ele, essa capacidade de armazenar carbono e conservar a vida do solo torna o sistema uma ferramenta estratégica no combate ao aquecimento global e na melhoria da qualidade do ar.

Capacidade de reter água e prevenir enchentes

Outro ponto abordado por Gislon foi o papel do solo saudável na retenção de água e na redução de enchentes, problema recorrente no Alto Vale.

“Esse solo orgânico tem uma capacidade muito maior de reter água. Isso ajuda a reduzir o volume das enchentes e impede que tanto barro seja levado pelas chuvas para os rios. Se o sistema de plantio direto fosse amplamente utilizado no Alto Vale, teríamos enchentes menores, águas mais limpas e menos erosão”, observou.

De acordo com Aurio, a aplicação do SPDH em larga escala poderia transformar a paisagem da região, tornando-a mais resiliente às chuvas intensas e ambientalmente equilibrada.

O papel do IFC e da educação no campo

Ao ser questionado sobre o papel do Instituto Federal Catarinense nesse processo, Aurio foi categórico:

“O IFC tem uma missão essencial: formar profissionais e cidadãos comprometidos com o desenvolvimento sustentável. Essa especialização aproxima a academia do campo — e é isso que faz a diferença. O saber científico precisa dialogar com o saber popular do agricultor”, afirmou.

Para ele, o modelo de ensino do IFC reforça a importância da educação como ferramenta de transformação social e ambiental no meio rural.

Desafios e perspectivas

Durante a entrevista, Gislon também abordou os desafios enfrentados pela adoção do sistema de plantio direto. Segundo ele, a principal barreira ainda é a resistência cultural de alguns produtores.

“Mudar práticas é sempre um processo difícil. Mas quando o agricultor vê os resultados — solos mais férteis, menor custo com adubos e maior produtividade — ele percebe que vale a pena. O curso ajuda a construir esse novo olhar sobre o campo”, completou.

O jornalista destacou ainda que a especialização e extensão oferece uma visão integrada entre agricultura, meio ambiente e sociedade, promovendo um modelo de produção que respeita a natureza e fortalece a economia local.

Encerramento

Ao final da conversa, Cleiton da Silva ressaltou a importância de profissionais como Aurio Gislon, que unem jornalismo, conhecimento técnico e compromisso social.

“Precisamos falar mais sobre sustentabilidade, sobre a valorização da agricultura familiar e sobre o papel da educação rural. O futuro do campo depende disso”, concluiu Cleiton.

Com iniciativas como a do IFC – Rio do Sul e o trabalho de profissionais engajados, o Alto Vale do Itajaí consolida-se cada vez mais como referência em educação, inovação e sustentabilidade no campo.